Especialistas planeiam proteger uma das fontes de água mais raras pristinas no sudeste de Angola

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Especialistas em conservação estão a explorar formas de proteger as nascentes prósperas e imaculadas de alguns dos rios mais emblemáticos de África no sudeste de Angola, para manter o seu estado em benefício da natureza e das comunidades da região. 

As origens destes rios incluem os rios Cubango-Okavango, Cuando e Zambeze, na mesa planáltica de angola. As bacias são reconhecidas como uma das cinco áreas de elevada biodiversidade e de natureza selvagem mais intactas do mundo. As suas nascentes sustentam uma rica biodiversidade, zonas húmidas vitais e proporcionam um imenso valor social e cultural. Ao investir em medidas de protecção e de gestão sustentável da utilização dos solos, Angola tem a rara oportunidade de salvaguardar estes rios a um custo relativamente baixo em comparação com a sua recuperação quando degradados, promovendo simultaneamente actividades económicas baseadas na natureza, como o ecoturismo. 

A iniciativa é liderada pela The Nature Conservancy (TNC) e pelo World-Wide Fund for Nature (WWF), pelo Gabinete de Administração da Bacia do Rio Cunene (GABHIC) e pelo Instituto Nacional de Recursos Hídricos (INRH). Os actuais interesses de conservação em Angola incluem a protecção das fontes de água, o rezoneamento dos Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana, e a exploração do estabelecimento de áreas de conservação e cogestão baseadas na comunidade. 

Narciso Ambrósio, representante do Instituto Nacional de Recursos Hídricos (INRH), disse: “Face às condições em rápida mudança, encontramo-nos num momento crucial para a conservação das fontes de água pristinas do Sudeste de Angola. O nosso compromisso no Instituto Nacional de Recursos Hídricos é garantir que estes ecossistemas vitais não só continuem a prosperar como também beneficiem as comunidades que deles dependem. Ao dar prioridade à gestão sustentável e às medidas de protecção, estamos a salvaguardar o nosso património natural para as gerações futuras. Esta iniciativa não se trata apenas de conservar os recursos hídricos; trata-se de preservar a nossa identidade, a nossa cultura e o nosso futuro económico comum.”

A TNC e a WWF têm estado a trabalhar na Iniciativa de Planeamento da Conservação do Sudeste de Angola e das Fontes de Água, que está a reunir um conjunto abrangente de dados e informações para apoiar os planos de conservação das instituições governamentais, para que estas possam tomar decisões informadas sobre onde, porquê e como investir na conservação. No âmbito desta iniciativa, teve início hoje um workshop em Luanda para envolver os actores no aperfeiçoamento das estratégias de conservação e definir vias de implementação.

Falando durante o workshop, o representante do GABHIC, Carolino Mendes, disse precisamos de agir agora na implementação de medidas de conservação no Sudeste de Angola que equilibrem as necessidades ambientais e sociais. À medida que avançamos com a nossa ambiciosa agenda de conservação, reconhecemos que a preservação dos nossos recursos naturais não é apenas um imperativo ambiental, mas também uma componente vital da nossa identidade nacional e do nosso futuro económico partilhado. Ao salvaguardar a nossa biodiversidade e garantir a gestão sustentável dos nossos ecossistemas, estamos a investir na saúde e na prosperidade das nossas comunidades para as gerações vindouras”.

O sudeste de Angola possui alguns dos sistemas fluviais mais significativos de África, contribuindo com cerca de 120 a 150 km³ de escoamento superficial por ano, ou aproximadamente 8.000 a 10.000 m³ de água por habitante por ano, de acordo com o Relatório de Levantamento e Estado da GIRH de Angola. A bacia do Cubango-Okavango, por si só, é crucial para a manutenção de uma gama diversificada de vida selvagem, incluindo uma das maiores populações contíguas de elefantes africanos, e fornece recursos essenciais de água doce para uso doméstico e agrícola das comunidades locais. A biodiversidade de Angola é excepcional, com mais de 1.260 espécies de plantas endémicas e 275 espécies de mamíferos, como a famosa Palanca Negra Gigante, o Búfalo Vermelho e o Elefante da Savana. Os rios também têm um valor social e cultural significativo e possuem um potencial inexplorado para apoiar o desenvolvimento económico através de indústrias baseadas na natureza, como o ecoturismo.

No entanto, as condições na região estão a mudar rapidamente, incluindo as infra-estruturas fluviais propostas, como barragens e desvios de energia hidroeléctrica, a desflorestação persistente e uma concentração crescente da actividade humana ao longo dos principais rios e cursos de água, o que pode provocar tensões nos sistemas de água doce. As taxas de pobreza são também elevadas e as comunidades locais necessitam de oportunidades pós-conflito para melhorar as suas vidas e meios de subsistência. 

Falando durante o workshop, Colin Apse, da TNC, disse: “Ao contrário de muitos rios e lagos no mundo que estão entre os ecossistemas mais degradados, os rios no Sudeste de Angola estão em condições ecológicas notavelmente boas, o que significa que temos uma oportunidade única de manter estes ecossistemas prósperos para o benefício da natureza e das pessoas. Ao investir na protecção destes recursos naturais hoje, podemos assegurar um futuro sustentável tanto para as pessoas como para a vida selvagem no Sudeste de Angola e esta iniciativa representa um passo significativo para atingir esse objectivo.”

Moses Nyirenda, Director de Conservação da WWF, sublinhou a importância desta iniciativa: “A saúde do nosso planeta depende de ecossistemas saudáveis. Temos de actuar urgentemente para proteger estes recursos naturais vitais não só para a vida selvagem mas também para as comunidades que deles dependem. A gestão sustentável dos nossos rios é essencial para garantir a segurança da água e a biodiversidade em Angola. 

A Associação para a Conservação do Ambiente e o Desenvolvimento Rural Integrado tem sido fundamental na promoção de esforços de conservação liderados pela comunidade. O seu trabalho melhorou as práticas de pesca locais, aumentando significativamente a média de capturas de peixe de 3 kg/dia para 12 kg/dia através da implementação de cooperativas de pesca sustentáveis. Este modelo não só melhorou a segurança alimentar, como também está a capacitar as comunidades para se envolverem ativamente na gestão dos seus recursos naturais.

O Workshop de Planeamento de Conservação da Água no Sudeste de Angola e nas Fontes de Àgua, com a duração de dois dias, também serve como plataforma para feedback sobre os planos espaciais que foram desenvolvidos durante esta iniciativa.

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