Angola registou uma ligeira melhoria na oferta de divisas no mercado cambial, durante o I semestre deste ano, com a disponibilização de cerca de 840 milhões de dólares/mês, em média, contra perto de USD 600 milhões registados no II semestre de 2023, segundo o economista do Standard Bank, Fáusio Mussá.
Em declarações à imprensa, no final da 3ª edição do Briefing Económico 2024, que decorreu esta segunda-feira, em Luanda, o economista-chefe do Standard Bank para Angola, Moçambique e República Democrática do Congo (RDC) disse que, apesar dessa melhoria, o nível de oferta de moeda externa ainda é insuficiente para atender a procura do mercado interno.
De acordo com o especialista, a actual disponibilidade de dólares em Angola, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) avaliado em perto de 100 biliões de dólares, demonstra que o mercado está a operar com um nível de moeda externa abaixo do que se precisa para atender a demanda.
Avançou que essa situação é possível ser minimizada à medida que o país vai gerando espaço fiscal, através do aumento da venda de moeda externa por parte do Tesouro, com vista o reforço da oferta de divisas no mercado.
Fáusio Mussá recordou que o Banco Nacional de Angola (BNA) continua a proteger as reservas internacionais do país, facto que permitiu, até ao momento, conservar os actuais cerca de 14,7 biliões de dólares, o que corresponde perto de oito meses de cobertura de importação de bens e serviços.
Considerou ser uma política consistente e estável do Banco Central, por permitir estar entre os melhores rácios da África subsaariana, em termos de cobertura de importação.
Esse indicador, prosseguiu, dá conforto aos investidores que financiam os projectos do Governo angolano e a economia, em geral.
“Nós temos estado a ver, consistentemente, apenas em momentos muito pontuais é que o Banco Central intervém, como fez nas últimas semanas, com a disponibilização de 250 milhões de dólares, para permitir, essencialmente, a importação de alimentos e de medicamentos”, realçou.
Ao apresentar o actual quadro da economia angolana e mundial, o economista-chefe lembrou que, neste ano, o desempenho económico de Angola tem sido acima do habitual, com o registo de um crescimento em torno de 4%, nos primeiros seis meses do ano em curso, contra 1% de 2023.
Apontou a aceleração da produção petrolífera, no primeiro trimestre, como um dos principais factores impulsionador desse crescimento, sendo que o sector diamantífero foi o que mais contribuiu, no segundo trimestre deste ano.
Destacou, igualmente, a redução da dívida total de Angola, com realce para os desembolsos de financiamentos, feitos recentemente, como um dos factores que vão ajudar o continuo funcionamento da economia angolana.
Realçou o facto da redução substancial da dívida de Angola para com a China, destacando o reembolso de seis biliões de dólares em capital, em dois anos.
“Nenhum país consegue viver sem nova dívida, mas é importante que o serviço de dívida permita a economia continuar a funcionar”, sublinhou.
Referiu que se registou um decréscimo da dependência de Angola nas exportações ou receitas de petróleo de 98% para 94%, ou seja, em termos absolutos, essa redução ainda é muito pequena.
Recordou que, nos últimos tempos, tem havido uma pressão muito grande para acudir a pressão social que a inflação gera, com a redução de impostos em alguns bens de primeira necessidade, como o IVA.
Para o especialista, o resto da economia apresenta alguma resposta, com algum investimento na agricultura, no comércio, entre outros sectores, mas ainda regista um crescimento muito fraco, o que significa que, caso o petróleo e os diamantes fiquem estagnados, Angola poderá registar uma desaceleração económica em 2025.
Para o próximo ano, Fáusio Mussá prevê que os efeitos positivos de base do sector petrolífero “vão ficar diluídos”, porque, em princípio, estima-se que a produção do crude mantenha-se na casa de um milhão e 100 mil barris por dia, facto que pode desacelerar a economia angolana no próximo ano.
Segundo as suas projecções macroeconómicas, o cenário fiscal de médio prazo considera que haverá investimentos suficientes para garantir que a produção de petróleo em Angola se mantenha entre um 1,1 ou 1,2 milhões de barris/dia, além do investimento que já foi feito neste sector.
“Se não houver um aumento da produção petrolífera e o preço estiver abaixo do que foi projectado no OGE/2025 – 70 dólares/barril – dificilmente voltaremos a registar o crescimento de cerca de 3,9% verificado em 2024, porque a economia angolana ainda continua excessivamente dependente do petróleo”, alertou.
Porém, o economista antevê que esse cenário possa ser minimizado ou revertido, caso se avance para novas reformas económicas no país, no âmbito de um novo programa de financiamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), que está em negociação.
Esse plano, adiantou, terá dupla vantagem: permitir que Angola tenha acesso a mais financiamento de longo prazo, com custos mais baixo do que seria o custo da dívida comercial; a outra vantagem está relacionada com a continuidade de reformas económicas que não foram concluídas no quadro do primeiro programa que o país beneficiou do FMI.
Defendeu a contínua diversificação económica, com investimentos em novas áreas que permitam gerar a oferta de moedas externas, como Corredor do Lobito, Namibe, entre outras infra-estruturas que podem ajudar reduzir o impacto da volatilidade do preço de petróleo na economia angolana.
Referiu que a maior parte das projecções para 2025 indicam o preço do petróleo será mais baixo, comparativamente a 2024.
Os participantes na 3ª edição do Briefing Económico de 2024, o último deste ano, abordaram o tema “Perspectivas económicas”, com um painel centrado no “Papel do investimento da em infra-estruturas no crescimento económico”.
O evento contou com a participação de várias individualidades, entre especialistas de diversos ramos, empresários e membros do Governo angolano, que reflectiram em torno dos possíveis cenários da economia angolana, em particular, e mundial, no geral, nos próximos anos.
Neste ano, o primeiro Briefing Económico do Standard Bank aconteceu em Abril último, com o tema “Situação macroeconómica de Angola” e um painel de debate que reflectiu em torno da “Situação geopolítico e macro de Angola: Mercado de Capitais”. O segundo decorreu em Junho, com tema “Angola e o dividendo demográfico”, tendo o debate focado na educação e no crescimento económico.