A Expansão do Fracking e a Influência dos EUA no Fornecimento de Óleo e Gás à Europa
Avelin Martins, analista de Relações Internacionais
A reeleição de Donald Trump nos EUA traz à tona novamente a sua conhecida postura em relação às políticas ambientais e à transição energética global. Durante o seu primeiro mandato, Trump consolidou uma visão que priorizava a expansão do sector energético dos EUA, principalmente através do fracking (fraturamento hidráulico) — técnica que revolucionou a exploração de óleo e gás em solo americano. Esta abordagem não só permitiu que o país se tornasse um exportador de gás natural, mas também influenciou directamente o mercado energético europeu. Ao mesmo tempo, trouxe à tona debates críticos sobre o impacto dessa política nas metas de sustentabilidade e nas questões climáticas globais.
A Retomada do Fracking e as Repercussões Ambientais
O fracking, tecnologia amplamente promovida no governo de Trump, tem sido criticado por causar impactos significativos ao meio ambiente, como a contaminação de lençóis freáticos, sismos induzidos e emissões de metano, um gás com potencial de aquecimento global muito mais intenso que o dióxido de carbono. A sua presidência marcou a retirada dos EUA do Acordo de Paris, evidenciando-se uma política ambiental que muitos consideram regressiva e que desestimula investimentos em energias renováveis. Ao colocar o fracking no centro da política energética, Trump reforça um modelo de exploração que confronta directamente os esforços globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.
O Papel dos EUA na Segurança Energética Europeia
A Europa, especialmente após as recentes crises no fornecimento de gás russo, tornou-se ainda mais dependente do gás natural liquefeito (GNL) exportado pelos EUA. Com Trump no comando, o impulso ao fracking e à exportação de GNL à Europa ampliaria essa dependência, tornando o continente mais suscetível às políticas energéticas americanas. Sob a ótica de Trump, essa dependência estratégica é vantajosa para os EUA, pois fortalece laços comerciais e oferece um canal para a sua influência geopolítica.
Entretanto, esse movimento representa um desafio para as metas de descarbonização europeias, compromete a agenda de neutralidade de carbono que a União Europeia pretende alcançar até 2050. O fracking não só gera altas emissões, mas também desestimula investimentos em alternativas renováveis, consolida o modelo de dependência dos combustíveis fósseis.
Desafios e Perspectivas para a Política Ambiental Global
Se Trump continuar a impulsionar o uso de combustíveis fósseis e colocar em segundo plano o combate às mudanças climáticas, a influência americana poderá dificultar o progresso nas metas climáticas globais. A liderança dos EUA a um sector tão significativo, tem o poder de influenciar políticas nas outras nações, que podem ver na estratégia americana um argumento para adiar ou suavizar as suas próprias acções ambientais.
A presidência de Trump representa uma reviravolta nas prioridades globais de sustentabilidade, coloca as ambições econômicas à frente da preservação ambiental. Nesse cenário, o desafio para a comunidade internacional será ainda maior: como manter o compromisso com a redução das emissões num contexto em que um dos principais emissores do mundo — e um dos mais influentes — desconsidera a urgência climática?
Na minha visão a analise de relações internacionais vejo que:
O retorno de Donald Trump à presidência americana significa uma intensificação do fracking e uma expansão do papel dos EUA como principal fornecedor de energia fóssil para a Europa. A curto prazo, isso trará benefícios econômicos e aumentará a segurança energética do continente europeu. A longo prazo, no entanto, arrisca as metas ambientais e colocaria em cheque o compromisso global com a sustentabilidade.
É crucial que a Europa e outras nações em busca de fontes de energia se preparem para os impactos do segundo mandato do Trump. A dependência do GNL americano deve ser equilibrada com investimentos em energias renováveis e novas tecnologias de baixo carbono, para que a transição energética não seja colocada em risco. Afinal, a responsabilidade climática é colectiva, e cabe a todos, incluindo grandes potências como os EUA, alinhar-se com uma visão sustentável para o futuro.