O presidente da Associação Angolana de Bancos (Abanc) disse hoje que é preciso olhar com “serenidade” para os desafios que a banca enfrenta, considerando que não há motivos para alarmismo quanto a possíveis despedimentos neste setor.
Mário Nascimento defendeu que, em vez de se estar a “fazer ondas, para além daquelas que são as realmente necessárias”, é preciso olhar para os fenómenos e identificar o que se passa.
O responsável, que falava à Lusa à margem da II Conferência de Sustentabilidade na Banca, promovida hoje pela Abanc, frisou que está em curso uma profunda reestruturação do setor, quer do ponto de vista das exigências regulatórias quer do ponto de vista das exigências do mercado.
Segundo o presidente da Abanc, ao mesmo tempo, os bancos estão em processo de reestruturação interna, com a digitalização dos serviços e a introdução de canais digitais de acesso aos serviços.
“E nestes processos há sempre alguns efeitos negativos e alguns deles são, claramente, a diminuição de canais físicos de distribuição de serviços bancários, nos quais podemos incluir os balcões. Claro que se diminuem os balcões, tendo em conta os recursos que estão a ser usados de outra forma e de uma forma mais eficiente, isso implica o encerramento e despedimento de pessoas”, referiu.
Para Mário Nascimento, o despedimento de pessoas “é sempre triste”, mas assegurou que o setor tem sempre a perspetiva de, naquelas situações em que é possível, não optar por essa via e sim por realocar o pessoal, o que, reconheceu, nem sempre é possível.
“Mas não é porque há um processo de crise ou um processo propositado ou porque há simplesmente um processo de diminuição de custos, isso representa estas dinâmicas que o mercado bancário angolano está a atravessar”, disse.
O presidente da Abanc afirmou que, “do ponto de vista do cliente não é uma situação alarmante, do ponto de vista dos trabalhadores não é uma posição alarmante”.
“Nós não vemos isso com nenhum alarmismo, vemos apenas com alguma pena, do ponto de vista social, do ponto de vista humano”, vincou.
Na semana passada, a administração do Banco Internacional de Comércio (BIC) admitiu a possibilidade de fechar 40 dos 230 balcões que tem em Angola e despedir cerca de 300 trabalhadores, mas, alguns dias depois, o presidente executivo do banco disse que estava a falar apenas em termos hipotéticos.
Relativamente às queixas e preocupações que alguns bancos apresentam sobre dificuldades para adquirir divisas em detrimento de outros, Mário Nascimento disse que não acredita que haja alguma discriminação, porque os bancos todos têm acesso à plataforma da Bloomberg.
“Nós temos conhecimento, porque há bancos que nos fazem chegar essa mensagem, já fizemos reuniões com o Banco Nacional de Angola e os bancos também participaram, alguns deles, e foi clarificado o processo de atribuição, que é por oferta e todos têm claro como é o funcionamento do sistema de alocação dessas divisas”, referiu.
Para o presidente da Abanc, é normal que os bancos se queixem, atendendo que o nível de oferta hoje é um terço daquilo que os bancos e o mercado estavam habituados.
“Claro que nenhum banco hoje está satisfeito com o nível de ofertas, mas para além dessa informação disponível, não temos outra que nos permita sustentar que haja uma discriminação de outra natureza, de uns bancos em desfavor de outros”, frisou.
Sobre a situação do Banco Económico, Mário Nascimento disse que a Abanc tem estado a acompanhar, assim como o sistema bancário como um todo, acrescentando que o banco central angolano é o responsável máximo por todo o processo.
O Banco Económico, ex-Banco Espírito Santo Angola (BESA), encontra-se há vários anos num processo de reestruturação, enfrentando uma situação de falência técnica, segundo o jornal Expansão, e no ano passado, o banco central angolano disse que continuava a acompanhar o plano de recapitalização desta instituição bancária.
Mário Nascimento disse que existem infraestruturas institucionais, nomeadamente o Fundo de Garantia de Depósitos e o Fundo de Resolução, que são instituições que vêm dar mais confiança e solidez ao mercado, não crendo que haja qualquer decisão que ponha em causa a solidez do sistema.
“Por isso vamos aguardar, qualquer solução tem que ser para que não crie desconfiança, não crie instabilidade e também não crie custos para além daqueles que já são os custos que estão associados ao seu próprio processo, que já é longo”, rematou.