Centenas de cidadãos namibianos cruzam, diariamente, a fronteira em direcção à província do Cunene para adquirir massango, massambala e milho em Ondjiva, a capital da província do Cunene tanto para uso pessoal como para fins comerciais.
Segundo informações fornecidas por Catangela Verónica Joaquim, técnica do departamento de Vigilância e Epidemiologia Animal e Vegetal do Gabinete Provincial de Agricultura, Pecuária e Pesca, nos últimos quinze dias, foram transportados através do posto fronteiriço de Santa Clara com destino à Namíbia 1443 sacos de massango de 1/150 kg (equivalente a 216.400 Kg), 415 sacos de massambala de 1/150 kg (totalizando 62.250 kg) e 878 sacos de farelo de 1/150 kg (correspondendo a 131.700 kg).
A presença de clientes namibianos nos principais mercados paralelos de Ondjiva, nomeadamente o Alemanha e o Oshomukuiyu, fazem os negócios dos residentes do Cunene seguirem de vento em popa.
Quem o confere ao Jornal de Angola são as dezenas de vendedoras, particularmente às de cereais.
“Há dias em que só se regista o fluxo de clientes namibianos, os angolanos só aparecem por altura dos salários”, conta Teresa Lukamba de 22 anos, há cinco como vendedora de cereais no mercado Alemanha, a frente de negócios familiar, para quem a justificação está no aumento do custo de vida em Angola.
Na região do Cunene, um quilo de massango ou milho custa aproximadamente 350 kwanzas, enquanto na Namíbia esse valor pode chegar a 1200 kwanzas. Devido à crise de seca em curso, Teresa Lukamba destaca “Estamos dedicando muito esforço para obter grandes ganhos”, apontando que os namibianos têm a capacidade de comprar, semanalmente, entre mil e 1.500 quilos de diversos produtos agrícolas.
Teresa Lukamba junta as suas contas aos lucros, que têm servido para pagar o colégio do filho e que já ajudaram até a construir uma casa e mobila-la
O Cunene não é, no entanto, a única região beneficiada com a crescente procura dos namibianos pelos produtos agrícolas provenientes de Angola.
Durante a semana, caminhões vindos do conhecido “Triângulo do Milho” (que engloba os municípios de Caconda, Caluquembe, Chicomba, Chipindo, Quipungo e Matala), responsável por 80% da colheita anual de milho na província da Huíla, descarregam nos mercados de Ondjiva, não apenas milho e massango, mas também batata-doce, rena, mandioca, tomate, feijão e hortaliças.
Adelina Vassole, vendedora do mercado de Oshomukuiyu, é uma das líderes no comércio proveniente da Huíla: “Todos as semanas transfiro dinheiro através do banco e os produtos chegam aqui em dois a três dias após serem recebidos pelos produtores”, relata. Com mais de três anos como vendedora, Vassole destaca que “nunca o negócio correu tão bem como agora” e até já faz plano de expandir as vendas de massango para a Namíbia. “Só não o fiz até agora por falta de passaporte”, confessa.
Seca
As secas em África tornaram-se mais frequentes, intensas e generalizadas nas últimas quatro décadas, de acordo com uma investigação da Organização Não Governamental WaterAid, sendo os cinco países mais afectados são Somália, Sudão, África do Sul, Sudão do Sul e Namíbia, que já estão em situação de escassez de água devido à aridez de suas terras.
Enquanto a actual situação persistir é expectável que os namibianos das regiões fronteiriças continuem a viajar para a província do Cunene para poupar dinheiro.
Um exemplo é o do namibiano Haufico Haimbodi: “Há dois anos que venho fazer compras de cereais nos mercados de Ondjiva, devido à seca severa que o meu país enfrenta nos últimos dois anos”, relata. Outro motivo que o leva a saltar a fronteira é o preço baixo: “Posso adquirir grandes quantidades de produtos para revenda e consumo”, continuou, salientando a sua preferência pelo massango por ser nutritivo e ter múltiplos derivados. “A escolha pelo mercado angolano se deve-se à qualidade dos alimentos naturais, livres de produtos químicos. Compro um pouco de tudo aqui, incluindo hortaliças, pois os produtos namibianos possuem químicos que podem prejudicar a saúde humana”, acrescentou Mateucha Hangula, outro cidadão namibiano.
Reportagem: Jornal de Angola