Especialistas e decisores do sector da saúde privada alertaram hoje, num evento realizado em Luanda, para o risco iminente de colapso do sistema. Durante o Business & Breakfast Saúde, Edgar Santos, consultor da TIS, afirmou que é necessária uma mudança imediata, sob pena de o sector ficar irremediavelmente para trás, criticando o modelo de facturação por volume de actos médicos como insustentável.
Participantes do evento, incluindo representantes de clínicas, hospitais e seguradoras, identificaram três crises interligadas, nomeadamente, os gastos públicos em saúde que se mantêm abaixo de 2% do PIB; as empresas optarem por apólices low-cost que excluem doenças crónicas; e as unidades de saúde debatem-se com inflação galopante e escassez de insumos importados.
José Cunha, Secretário-Geral da Associação de Clínicas Médicas, corroborou com esta análise, referindo que o aumento diário dos preços dos materiais força subidas nos custos para os utentes, exemplificando com consultas de oftalmologia que podem atingir até 75.000 kwanzas.
Como solução, defendeu-se uma transição urgente para modelos de remuneração baseados em resultados clínicos – não no número de procedimentos – e a adopção de tecnologias digitais. Edgar Santos destacou que plataformas em nuvem e interoperabilidade poderiam reduzir custos operacionais em até 25%, mas advertiu que o mercado colapsará se clínicas, seguradoras e reguladores não promoverem diálogo franco.
O evento abordou ainda alegações de recusa de primeiros socorros a pacientes sem cobertura. José Cunha reiterou que tal prática é ilegal, sublinhando que todas as clínicas devem estabilizar doentes graves antes de os transferir para o sistema público, independentemente da situação financeira, recordando que já houve sanções por casos similares.
Em conclusão, os participantes comprometeram-se a acelerar projectos-piloto de interoperabilidade e a desenvolver indicadores de eficiência até ao terceiro trimestre deste ano.
