Por: Rúben Ramos, Responsável da Sala de Mercados HCP Securities – SDVM, S.A
No mercado financeiro, investir em títulos do tesouro parece simples: compramos um activo que paga juros periódicos (semestrais) e resgatamos o principal no vencimento. No entanto, quando esses títulos são negociados no mercado secundário, o seu preço oscila, criando uma relação inversa entre preço e a yield (rentabilidade efetiva).
Isso significa que um título com um cupão elevado nem sempre é um bom investimento, pois o que realmente importa é a yield no momento da compra. Ignorar esse conceito pode fazer com que o investidor pague caro por um activo e reduza seu retorno.
Neste artigo, explico de forma teórica e prática por que a yield é a métrica mais importante na compra de títulos, como ela se comporta no mercado secundário e quais factores influenciam a precificação dos títulos públicos.
1. Taxa de Cupão vs. Yield: Conceitos Fundamentais
Os títulos de dívida são activos financeiros emitidos por governos e empresas para captar recursos, oferecendo pagamentos de juros periódicos e a devolução do valor nominal no vencimento. Para compreender o retorno desses activos, é essencial distinguir dois conceitos: taxa de cupão e yield.
1.1 O que é a Taxa de Cupão?
A taxa de cupão é o percentual fixo do valor nominal do título que será pago ao investidor periodicamente como juros. Essa taxa é definida no momento da emissão e não muda ao longo do ciclo de vida do título.
📌 Exemplo:
• Quantidade de títulos: 100
• Valor nominal por título: 1.000 AOA
• Valor nominal total: 100.000 AOA
• Taxa de cupão: 23% ao ano
• Juros pagos ao investidor: 23% de 100.000 AOA = 23.000 AOA por ano
Embora a taxa de cupão determine os fluxos de juros, ela não reflecte o retorno efectivo do investidor, pois no mercado secundário o preço do título pode ser diferente do valor nominal.
1.2 O que é a Yield?
A yield (ou rentabilidade efectiva) é o verdadeiro retorno anualizado do investidor e considera o preço pago pelo título.
- Se um investidor compra o título pelo valor nominal, em geral, a yield será igual à taxa de cupão.
- Se ele comprar acima do valor nominal (a prêmio), sua yield será menor.
- Se comprar abaixo do valor nominal (com desconto), sua yield será maior.
A yield fluctua diariamente no mercado secundário à medida que os preços dos títulos variam. Para entender essa relação, precisamos analisar a precificação dos títulos.
2. Como os Títulos São Precificados?
Os títulos de dívida são activos de renda fixa, mas seu preço no mercado secundário não é fixo. Ele depende de vários factores, entre eles:
✅ Oferta e demanda: Se há mais compradores do que vendedores, o preço do título tende a subir e a yield a cair. Se há mais vendedores, o preço tende a cair e a yield a subir.
✅ Taxas de juros da eonomia: Se as taxas de juros de referência aumentam, os títulos existentes tornam-se menos atractivos e seus preços caem, com impactos sobre a yield. Se as taxas caem, os títulos antigos tornam-se mais valiosos, seus preços sobem e a yield cai.
✅ Risco de crédito: Quanto maior o risco do emissor (governo ou empresa), maior a yield exigida pelos investidores para compensar esse risco.
A relação entre preço e yield segue a seguinte lógica:
🔺 Preço sobe → Yield cai
🔻 Preço cai → Yield sobe
Essa relação inversa acontece porque o investidor recebe sempre o mesmo fluxo de caixa, independentemente do preço que pagou pelo título.
Agora, vejamos exemplos concretos dessa dinâmica.
3. Exemplos Práticos: Rentabilidade Efetiva
Para demonstrar como a yield muda conforme o preço de compra, analisemos três cenários de compra do mesmo título.
3.1 Cenário 1: Compra pelo Valor Nominal (Par)
• Preço de Compra: 1.000 AOA por título
• Valor total investido: 100.000 AOA
• Total recebido (juros + principal): 215.000 AOA
• Yield Efectiva: 23% ao ano
3.2 Cenário 2: Compra a Prêmio (Acima do Valor Nominal)
• Preço de Compra: 1.100 AOA por título
• Valor total investido: 110.000 AOA
• Total recebido (juros + principal): 215.000 AOA
• Yield Efectiva: 20,9% ao ano
O investidor pagou mais pelo mesmo fluxo de juros, com efeitos sobre a rentabilidade.
3.3 Cenário 3: Compra com Desconto (Abaixo do Valor Nominal)
• Preço de Compra: 900 AOA por título
• Valor total investido: 90.000 AOA
• Total recebido (juros + principal): 215.000 AOA
• Yield Efetiva: 26,7% ao ano
O investidor pagou menos pelo mesmo fluxo de juros, aumentando sua rentabilidade.
4. Conclusão: A Yield Deve Ser Sempre Considerada…
Se os juros pagos ao investidor são fixos e determinados pela taxa de cupão, por que eu preciso olhar para a yield?
A resposta é que a yield determina a rentabilidade real do investimento, e ignorá-lo pode levar a decisões erradas e prejudiciais.
Os exemplos acima demonstram que o cupão não é suficiente para avaliar um título no mercado secundário. O que realmente importa é a relação entre os pagamentos futuros e o preço de compra.
✅ Se comprar pelo valor nominal (1.000 AOA/título), a rentabilidade será 23% ao ano.
✅ Se comprar a prêmio (1.100 AOA/título), a rentabilidade cairá para 20,9%.
✅ Se comprar com desconto (900 AOA/título), a rentabilidade subirá para 26,7%.
A yield reflecte o verdadeiro retorno do investimento e deve ser analisada antes da compra para evitar pagar caro e reduzir a rentabilidade efectiva.
5. Considerações Finais
🔸 No mercado secundário, a yield é o verdadeiro indicador de retorno, pois considera o preço pago pelo título;
🔸 Se um investidor olhar apenas para a taxa de cupão, pode acabar por pagar mais do que deveria e reduzir sua rentabilidade;
🔸 Em Angola, com um mercado de títulos públicos em crescimento, entender esses conceitos é fundamental para tomar decisões financeiras mais informadas e reduzir a probabilidade de perdas característicos dos próprios activos.
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