A ascensão da inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, MidJourney e Bard, está a revolucionar as práticas jornalísticas em todo o mundo. Para os jornalistas africanos, estas ferramentas não são apenas uma oportunidade: são uma emergência. Enquanto as redacções do continente se debatem frequentemente com recursos limitados, a IA generativa oferece soluções concretas para aliviar a carga de trabalho, enriquecer os conteúdos e melhorar a produtividade.
À escala mundial, há exemplos concretos que demonstram o potencial destas ferramentas. A Newsweek (um semanário noticioso americano), por exemplo, integrou uma IA interna capaz de criar vídeos que resumem os artigos existentes. Este processo transforma o texto num guião, seleciona automaticamente imagens e vídeos relevantes e cria um produto multimédia interessante. Um editor humano é então chamado a finalizar estes vídeos, que são frequentemente utilizados para maximizar o tempo de vida dos conteúdos na sua plataforma. Esta inovação ajuda a Newsweek a responder à procura crescente de conteúdos de vídeo com uma pequena equipa de produção, optimizando simultaneamente a sua pegada digital.
Entretanto, empresas como a BBC (British Broadcasting Corporation) e a RBB (Rundfunk Berlin-Brandenburg) da Alemanha estão a explorar a IA para produzir notícias hiperlocais. No Reino Unido, a BBC está a personalizar os seus boletins meteorológicos de acordo com os códigos postais dos seus ouvintes, tornando o conteúdo mais relevante. Na Alemanha, a IA está a ajudar a gerar relatórios específicos sobre questões locais, como o trânsito e os eventos locais. Estas iniciativas mostram como a IA pode melhorar a relevância e o impacto da informação prestada às comunidades.
Nos países em desenvolvimento, a IA está também a abrir oportunidades para chegar a públicos historicamente marginalizados. Por exemplo, a Agência Pública do Brasil utilizou ferramentas de IA para transformar uma investigação jornalística em conteúdos áudio acessíveis a uma comunidade diretamente interessada no assunto. Isto ultrapassou as barreiras da literacia e aumentou o envolvimento dos leitores com a história.
Para as redacções africanas, estes casos de utilização ilustram o potencial da IA generativa para responder a desafios estruturais: falta de tempo, escassez de recursos e a necessidade de alargar a audiência. Além disso, estas tecnologias permitem-nos voltar a concentrar-nos no cerne do jornalismo: análise, investigação e narração de histórias. No entanto, a adoção destas ferramentas no continente continua a ser limitada por uma fraca sensibilização e pela falta de formação específica.
As iniciativas tecnológicas globais devem inspirar os jornalistas africanos a aproveitarem estas ferramentas para reinventarem as suas práticas. Porque, embora a IA se tenha tornado uma alavanca estratégica para muitas redacções, pode revelar-se crucial para os meios de comunicação africanos na sua busca de eficiência, relevância e impacto.
No nosso próximo artigo, exploraremos uma faceta complementar desta revolução: como é que os jornalistas podem garantir que as IA continuam a ser assistentes e não substitutos, preservando assim a autenticidade e a responsabilidade humana na produção de informação.
Por: Cyrille Djami, Consultor de Comunicação Estratégica e fundador da CommsOfAfrica