“YIJI & ZAD”, a segunda exposição a solo do colectivo Verkron, abre as portas na Jahmek Contemporary Art, em Luanda, a partir de hoje, 27 de Setembro. Com recurso à tradição muralista, a obra propõe um processo poético e curativo das violências históricas dos projectos nacionais de matriz colonial. “YIJI & ZAD” está patente até 24 de Novembro.
“YIJI & ZAD (pelo fim da nação)” apresenta na Jahmek Contemporary Art, na baixa de Luanda, uma instalação pictórica imersiva que induz à reflexão poética sobre as violências exercidas historicamente, diluindo fronteiras colectivas e individuais.
Na sua essência, a mostra propõe uma leitura alegórica da fluidez dos rios como contraponto às políticas baseadas na imposição de fronteiras rígidas, sugerindo uma abordagem mais complexa das relações entre povos e territórios.
Para tal, nesta mostra a solo, a segunda dos Verkron, o colectivo transformou o espaço expositivo numa floresta monumental, onde cenas evocativas de um universo mítico se desdobram. Esses fragmentos narrativos manifestam-se nas pinturas, que ora estendem a floresta que cobre toda a galeria, ora funcionam como portais que revelam um universo mágico, no qual a água desempenha um papel central. O título da exposição reflecte essa dualidade simbólica: YIJI, que significa “rios”, e ZAD, uma sigla para “zonas a defender”.
Com esta exposição, Verkron posicionam-se como críticos fervorosos da máxima “um só povo, uma só nação”. Porém, em vez de apenas denunciar as violências históricas dos projectos nacionais de matriz colonial — já amplamente reconhecidas —, o colectivo opta por elaborar imagens poéticas e curativas. As suas obras buscam reconectar o espectador com forças ancestrais, oferecendo uma janela para a imaginação, que se torna fundamental para a criação de futuros mais amplos e interessantes.
VERKRON é um movimento transdisciplinar que procura experienciar formas mais integradas de existir, projectando com mestria mundos paralelos organicamente ligados a este em que vivemos, e a partir dai formular novas linguagens para comunicar mística e imaginação radical.
O colectivo usa as ruas, muros e fachadas da cidade como a tela de sonhos e universos fantásticos. O Movimento sonha com uma revolução psicológica com poder de nos levar a questionar os imperativos neoliberais da modernização, progresso e desenvolvimento. A sua arte é uma forma de ocupação que acaba por criar espaços livres onde podemos verdadeiramente “debater a construção do futuro das nossas cidades” e tornar-se a fonte de diálogos que podem contribuir para a educação e emancipação do nós, enquanto comunidades de pessoas urbanas e urbanizadas.
VERKRON retracta a nossa sociedade de uma forma sensível, algo que frequentemente passa despercebido na Luanda frenética, reabilitando a estética de uma cidade que carece de espaços onde a arte pode ser livremente apreciada por qualquer um, em qualquer lugar e em qualquer altura.
Pela possibilidade da magia, pelo poder dos sonhos e pela recuperação de identidades que nos sejam próprias, VERKRON cria utopias-pirata, espaços onde podemos especular sobre o que gostaríamos de nos tornar. Ao trazer novas narrativas para expurgar as do passado, o colectivo reconhece no seu trabalho a necessidade por mais humanidade, mais pensamento, sentimento e vivência comunitária, em que todos se sintam responsáveis pelo bem-estar geral, reconhecendo-nos, a cada um de nós, como partes de um todo.