Há alguns sectores da nossa sociedade que alimentam a ideia de que há muitos bancos a operar no nosso País se comparado com a dimensão do mercado. Tais vozes vaticinam o desaparecimento de várias instituições bancárias, seja por fusões ou aquisições.
Entretanto, Juvelino Domingos, membro do Conselho de Administração do banco BAI desde 2022, não partilha dessa ideia e explica as razões. “Não devemos forçar esta ideia das fusões ou aquisições, a não ser que haja interesse estratégico de um banco em adquirir outro banco ou interesse estratégico de dois bancos fazerem fusões entre si, aí sim, não há nada contra. Mas simplesmente utilizamos o argumento da concentração do mercado para defender fusões e aquisições, penso que não seria adequado”, disse o gestor numa recente entrevista que concedeu ao Podcast Money House.
Actualmente, dispomos no nosso sistema financeiro cerca de 25 bancos licenciados e temos uma população de aproximadamente 33 milhões de habitantes. Possuímos igualmente uma rede de aproximadamente 1500 balcões espalhados pelo País.
“Eu começaria por fazer a seguinte analogia: Se compararmos Angola com economias como a de Portugal, que apesar de ter um PIB superior, tem uma população muito inferior que a de Angola mas tem mais bancos que o nosso País e tem mais de 3 mil balções”, começou a explicar o gestor sob o olhar de Lopo dos Santos, que conduzia o Podcast. “De tal forma que devemos olhar para este tema da concentração versus dispersão do mercado de forma relativa”, continuou.
“Se olharmos para o top cinco da banca em Angola vemos que concentram em si, no seu conjunto, mais de 70% dos ativos do mercado, mas em Portugal o top cinco concentra quase 80%. Penso que lá, em Portugal, não se coloca o tema da necessidade das fusões por causa disto”, precisou.
Um outro exemplo citado por Juvelino foi o do Líbano, que tem ainda uma população mais pequena, cerca de 5 milhões de habitantes, possui um PIB próximo ao de Angola mas que tem mais de 40 bancos.
Juvelino, que já foi docente universitário e está na banca angolana desde os seus 19 anos de idade, asseverou ainda que existem métricas próprias para se determinar se um mercado ou um sector está relativamente concentrado. Uma dessas métricas é o índice de Hirschman-Her findahl, também conhecido como índice HH. “Se calcularmos com base neste índice, quer na perspectiva dos depósitos quer na perspectiva dos activos, para a banca em Angola, ele resulta numa pontuação de 1,5 ou 0,15 que na escala deste índice representa um setor não concentrado”, exteriorizou. “Nós devemos olhar para uma série de questões, contextualizar o tema e olhar sob várias perspectivas no sentido de concluirmos se o mercado está concentrado ou não”, prosseguiu.
Outro factor relevante apresentado pelo bancário, que o mesmo reputou de mais importante, é o facto de termos no País uma taxa de bancarização muito baixa, cerca de 35%. “Se compararmos com outros países fica claro que precisamos aumentar o nível de bancarização. Penso que não é com menos bancos que vamos conseguir isto”, rebateu.
De forma eloquente, mostrou também que qualquer fusão ou aquisição tem como efeito imediato a redução do número de balcões. “Temos vários bancos com agências muito próximas entre si e se dois desses bancos se fundirem vai ter de suprimir uma das agências nesse local. Não faz sentido num raio, digamos assim, de 100 metros existirem duas agências do mesmo banco”, Concluiu.
A entrevista completa pode ser vista no canal oficial do Money House no Youtube.