Kwanza desvaloriza mais de 700% nos últimos 10 anos

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Nos últimos 10 anos, o kwanza desvalorizou 795,2% face ao dólar, um aumento de 78.170 Kwanzas no valor de 100 dólares entre 2014 e 2024, tendo como consequências perda de poder aquisitivo, aumento dos bens e serviços, pobreza e desigualdade social. Economistas apontam reformas estruturais, aumento na produção nacional, melhoria na gestão fiscal e monetária para promover crescimento económico mais estável e sustentável.

Em 2014, 100 dólares americanos custavam 9 mil 830, ao passo que, até ao fecho desta edição, o câmbio do Banco Nacional de Angola (BNA) custa o equivalente a 87 mil ou 88 mil kwanzas. Em declarações ao  jornal O PAÍS, o economista Henrique Pascoal realça que, percentualmente, a desvalorização do Kwanza face ao dólar está na ordem de 795,2% ao longo dos últimos 10 anos. A taxa de câmbio da rua, praticado pelas conhecidas kínguilas, está hoje em torno dos 118 mil Kwanzas, contra os 18 mil que se verificava em 2010. 

Henrique Pascoal diz que este cenário revela sérios desafios económicos em Angola, como inflação galopante, instabilidade macroeconómica e gestão monetária deficitária, resultando numa drástica redução do poder de compra da moeda nacional. O especialista defende que esta depreciação tem-se refletido no aumento do custo devida, que eleva os níveis de pobreza, sublinhando que a pobreza monetária já representava 40,60%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este ambiente, segundo o interlocutor, cria desigualdades e um ambiente empresarial adverso, com custos elevados para empresas importadoras e uma diminuição dos investimentos estrangeiros. 

Conforme o economista, para mitigar estes impactos, será necessário que Angola implemente reformas estruturais profundas, diversificar a base económica, adoptar políticas eficazes de controlo da inflação, aumentando a capacidade produtiva nacional de bens de consumo que compõem a cesta básica nacional e melhorar a gestão fiscal e monetária, promovendo assim um crescimento económico mais estável e sustentável. 

“É preciso que se reconheça também, por parte dos decisores de política económica nacional, que esta desvalorização do Kwanza é o resultado de uma combinação de dependência prolongada do petróleo, gestão macroeconómica inadequada com decisões menos acertadas e com índice elevado de informação assimétrica e factores externos adversos”, explicou. 

No seu entender, as medidas correctivas devem concentrarse em reformas estruturais e políticas económicas robustas para estabilizar a moeda e fomentar um crescimento sustentável, sendo que as flutuações cambiais aumentam a incerteza económica, dificultando o planeamento e o investimento tanto para empresas locais, como para investidores estrangeiros. Por outro lado, a incerteza económica provocada pela inflação pode levar a uma diminuição dos investimentos, tanto estrangeiros como nacionais, prejudicando o crescimento económico a longo prazo. A inflação elevada aumenta os custos operacionais e reduz o poder de compra, e desincentiva as empresas a investir.

Texto: Patrícia de Oliveira

Publicado originalmente no Jornal O País de 16 de Agosto

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