Com a economia a abrandar – tal como previsto pelo BCE – o petróleo está a acumular-se nos reservatórios. Os produtores da OPEP+ estão a ficar nervosos e adiaram um encontro que devia suceder em Viena.
Há pouco mais de um mês, a narrativa dominante no mercado afirmava que havia escassez de petróleo, mas em poucas semanas o cenário alterou-se completamente: a acumulação de stocks nos mercados europeus domina agora o mercado, segundo uma análise do jornal espanhol “El Economista”.
O petróleo bruto não parou de chegar dos Estados Unidos ou da Guiana para a Europa, ao mesmo tempo que o consumo vem diminuindo face à desaceleração económica patrocinada pelas taxas de juro elevadas que o Banco Central Europeu continua a praticar.
O mercado europeu de petróleo está assim a enfrentar um excesso de oferta devido à baixa procura, enquanto a produção norte-americana continua a ser drenada para a Europa, de acordo com dados da Bloomberg. A Europa é o maior destino regional das exportações de petróleo bruto dos Estados Unidos em volume, com 1,75 milhões de barris por dia, de acordo com a Agência de Energia norte-americana.
A cotação do petróleo Brent parece estar a ‘sofrer’ com essa diminuição da procura: nas últimas semanas, tem tido dificuldade em manter-se acima do patamar dos 80 dólares – e esta manhã, depois de na quarta-feira ter chegado aos 78,5 dólares, está a cotar nos 81,3, menos 0,81% que no fecho da noite passada.
A Bloomberg também observa que, além dos embarques dos Estados Unidos, o petróleo da Guiana e do Mar do Norte também está a chegar em maior quantidade – o que tem dificultando as vendas de petróleo da Nigéria, um dos principais fornecedores do continente. Até o final da semana passada, mais de dois quintos dos embarques de dezembro do país africano ainda não haviam sido vendidos.
Por exemplo, a pequena Guiana está a enviar 63% de todo o petróleo que exportou nos primeiros seis meses de 2023 para a Europa, com um ritmo médio diário de 215 mil barris por dia, de acordo com dados da Refinitiv Eikon citados pela Reuters.
Embora os cortes de produção da OPEP tenham causado danos, o aumento da produção de petróleo noutras regiões parece estar a compensar os cortes e a inverter a lógica daquela estrutura associativa – que não é conhecida por fazer favores em prol do aumento da riqueza (alheia). O resultado é que estão a diminuir as expectativas de aumento de preços no médio prazo.
A referida OPEP e seus aliados (a Rússia) vai aliás reunir para conversar sobre a matéria. O excesso de oferta no continente será uma dor de cabeça para os produtores e pode exatamente funcionar como um alívio para a Europa, uma vez que o preço dos combustíveis tem um enorme impacto na formação da inflação. Se a alta das taxas diretoras europeias for paralela a uma diminuição do preço do petróleo, é bem possível que os esforços do banco central para domar a inflação deem resultado. O cartel devia ter reunido em Viena mas o encontro foi adiado para o final do mês, o que, segundo os analistas, demonstra a inquietação que está a percorrer os produtores.