Exposição colectiva “Beyond Boundaries” estará patente em Lisboa

Data:

Disponível ao público a partir do dia 17 do corrente mês, a exposição colectiva “Beyond Boundaries” conta com obras de Cristiano Mangovo, Gonçalo Mabunda, Luís Damião, Nelo Teixeira, Rómulo Santa Rita, Uólofe Griot e Samuel Nnorom, a mostra exorta o público a embarcar numa viagem cativante e elucidativa sobre a diversidade criativa no panorama da arte contemporânea africana e sobre alguns dos questionamentos que esta nos levanta através dos seus ciclos de renovação constante, forjados pela transfiguração incessante a que assiste a sociedade global em que se integra e que espelha.

Cristiano Mangovo

Na obra “Papa Sese – Depois de Mim o Dilúvio” Mangovo retoma o contexto histórico político da RDC para fazer uma recensão visual crítica da figura Mobutu Sese Seko Nkuku Ngbendu wa Za Banga, ditador do Zaire (atual RDC) entre 1965 e 1997, que ficou reconhecido pela sua crueldade, extravagância, corrupção e autoritarismo, e como figura central de um regime votado ao nepotismo, fisiologismo e apropriação indébita. Mangovo reforça a imagem paternalista do ditador ao agregar à obra a expressão fatidica “Depois de mim o dilúvio,” celebrizada por Luís XV. O tom profético, se por um lado reitera a ideia de que lhe eram indiferentes todas as calamidades que sobreviessem à nação depois da sua morte, reforça a imagem do protetor da patría que promete bonança e paz sob a sua governação.

Gonçalo Mabunda

Mabunda mergulha nas profundezas do passado turbulento de Moçambique. É assim que, das esculturas antropomórficas, “O Desdobrador do Destino” e “O Representante do Vermelho”, concebidas a partir dos detritos de uma guerra civil brutal que devastou o seu país implacavelmente durante mais de uma década, nasce uma alegoria comovente onde o artista tece habilmente fios de história, de metamorfose pessoal e um poderoso testemunho da resiliência do espírito humano.

Luis Damião

“Injusta” explora imageticamente a subversão da ideia de justiça por via da apropriação da iconografia tradicional desta alegoria, na qual uma figura feminina – tal como na representação clássica da deusa romana “Ivstitia” – se apresenta de olhos vendados, empunhando uma espada que simboliza a força, a prudência e a ordem, e uma balança, sinónimo da equidade. A venda sublinha a procura de imparcialidade e objetividade. Em “Injusta”, no entanto, essa imagem milenar é traída pela acção do homem, pelo uso imponderado do poder que corrompe, dando à luz este julgamento da instituição justiça.

Nelo Teixeira

O trabalho de Nelo Teixeira’s constitui uma crítica poderosa à sociedade de consumo contemporânea. Nascida do desperdício e dos excessos do quotidiano, a sua produção artística serve tanto de tributo às suas raízes culturais, como de reflexo dos ritmos sociais em constante mudança. Nelo Teixeira mergulha no subconsciente cru da paisagem urbana, para desafiar os limites físicos e do intelecto, que segregam o gueto da Chicala da paisagem urbana em evolução.

Rómulo Santa Rita

Rómulo Santa Rita socorre-se da representação naturalista do corpo humano para construir uma instalação monumental e imersiva: “Filhos de Canãa”. Uma personificação poderosa de experiências vivenciais e de reflexões filosóficas feitas a partir de textos sagrados, que decorre de uma composição que, transcendendo o apelo meramente estético, serve como comentário sobre o tecido social em constante evolução na capital angolana e como comentário sobre a paisagem cultural da cidade, que Rómulo Santa Rita, por si só vai enriquecendo enquanto street artist.

Samuel Nnorom

Ao empregar tecidos de Ankara para revestir intrincadas constelações de bolas de espuma, Nnorom apresenta uma metáfora visual para o “tecido da sociedade”. A sua produção artística apresenta-se como espelho que reflecte os fios entrelaçados da sociedade, incitando os espectadores a questionar as narrativas prevalecentes. Um trabalho que mergulha na cultura material para evocar a autointerrogação e o pensamento crítico sobre as estruturas sociopolíticas, e para desafiar simultaneamente a nossa compreensão da verdade e da conspiração contidas nas bolhas que envolvem a nossa vida quotidiana.

Uólofe Griot

Através do uso magistral de escarificações, as suas personagens intervencionadas transformam-se em figuras etéreas, personificando a fluidez da identidade angolana, muitas vezes negligenciada na vida quotidiana. Estes símbolos, delicadamente moldados como rendas, prestam homenagem aos ritos das multiplas tribos locais, dando vida aos ecos esquecidos da angolanidade. Numa sociedade marcada pelo trauma da apropriação colonial dos seus elementos visuais identitátios, a obra de Uólofe Griot desafia profundamente os tabus instalados. Configura um testemunho do poder da linguagem visual no decurso do tempo histórico e na contemporaneidade, uma celebração do património e uma reflexão profunda sobre a tradição.

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