Cerca de 350 toneladas de carne de porco nacional encontram-se “congeladas ou estagnadas” e sem mercado para a sua comercialização, numa altura em que as estatísticas mostram que Angola importa mais de 50% deste produto.
A revelação é do presidente da Associação Agro-pecuária de Angola (AAPA), que aponta este cenário como apenas um dos vários exemplos que os produtores nacionais enfrentam no dia-a-dia da actividade agro-pecuária no país.
Em exclusivo à Revista Outside, Wanderley Ribeiro afirmou que o volume de importações de bens alimentares com uma produção local já considerável, como o milho, o trigo e a carne, registou um aumento expressivo em 2022, comparativamente ao período anterior (2021), facto que desencoraja os produtores nacionais e impede a venda dos produtos locais.
A título de exemplo, em 2022, a importação de trigo teve um aumento de 40%, o leite (54%) e o frango (80%).
Com isso, prosseguiu, o processo de importação de alimentos em Angola “não está a levar em consideração a produção nacional”, pois, quase todas semanas a Associação recebe reclamações de produtores que não conseguem vender os seus bens alimentares.
Perante este quadro, o presidente da AAPA alerta a necessidade das autoridades angolanas, com destaque para os decisores, interagirem mais com os produtores nacionais, no sentido de se traçar políticas conjuntas que contribuam para o aumento da produção e se diminua cada vez mais as importações.
Para o empresário, é necessário que se crie uma “política de desenvolvimento agrícola” que assenta no aumento da produtividade, na redução de riscos e da estrutura de custos de produção, bem como garantir o preço de referência para os produtores.
Por outro lado, Wanderley Ribeiro advoga a necessidade de se auscultar os produtores/empresários, antes de se elaborar os grandes planos para alavancar a produção nacional, como Planagrão.
“Estamos plenamente de acordo com a criação do Planagrão. Porém, é preciso ouvir os empresários, por serem eles que vivem a realidade diária do campo. Portanto, não vamos montar um dos maiores projectos que tem condições de dar a volta a situação da agricultura em Angola sem a participação activa do sector empresarial”, recomendou.
A AAPA representa cerca de 80% das empresas que produzem entre 1000 a 1500 hectares, que são os maiores produtores em termos de área no país.
De âmbito nacional, esta agremiação abrange pessoas singulares, cooperativas, entre outras organizações.