O indiano Gautam Adani, o bilionário que abandonou a escola e se tornou o homem mais rico da Ásia, possivelmente enfrenta seu maior desafio depois que as ações de suas empresas caíram quando um vendedor a descoberto dos Estados Unidos lançou dúvidas sobre suas práticas comerciais .
Adani, de Gujarat, no oeste da Índia, construiu seu império do zero depois de começar como comerciante de commodities. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é do mesmo estado e seu relacionamento há muito tempo está sob escrutínio dos oponentes de Modi.
Seus interesses se expandiram para portos, geração de energia, aeroportos, mineração, óleos comestíveis, energia renovável, mídia e cimento e ele se tornou a terceira pessoa mais rica do mundo de acordo com a Forbes, com um patrimônio líquido de $ 127 bilhões, atrás apenas de Bernard Arnault e Elon Musk.
Casado com a dentista Priti Adani, tem dois filhos, Karan e Jeet, ambos envolvidos nos negócios da empresa.
Apesar de sua riqueza, o homem de 60 anos, que vem de uma família têxtil de classe média, era muito menos conhecido do que outros bilionários em um país onde muitos herdam sua riqueza.
Seu estilo de negócios foi descrito como “muito prático”, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto de seus negócios.
À medida que o império de Adani crescia, as ações de suas sete empresas listadas disparavam – em alguns casos, mais de 1.500% nos últimos três anos em meio a uma expansão agressiva. Ele negou as alegações dos oponentes de Modi de que ele se beneficiou de seus laços estreitos.
Em entrevista à Reuters em 2014, quando perguntado se era amigo de Modi, Adani disse que tinha amigos em todo o espectro político, mas evita a política.
Ele disse que nenhum líder político está por trás de seu sucesso e, quando questionado sobre o uso de aviões corporativos de Adani por Modi durante a entrevista, Adani disse que o político “paga totalmente”.
Nos últimos anos, o império de US$ 220 bilhões do Adani Group atraiu investimentos estrangeiros – a francesa TotalEnergies, por exemplo, fez parceria com a Adani no ano passado para desenvolver o maior ecossistema de hidrogênio verde do mundo.
Mais recentemente, Adani adotou uma abordagem pró-ativa para sua imagem pública, dando entrevistas para a mídia local e estrangeira.
Aparecendo em um popular programa de TV hindi este mês chamado ‘Tribunal do Povo’, Adani sentou-se em uma falsa caixa de testemunhas dentro de um tribunal e respondeu a perguntas sobre seu conglomerado – oferecendo um nível incomum de escrutínio.
Ele se descreveu como “uma pessoa tímida” e creditou o aumento de sua popularidade em parte aos ataques políticos que enfrentou.
O governo de Modi negou as acusações de favorecer Adani.
“As pessoas ficaram sabendo quem era Adani por causa do alvo constante de Rahul ji durante as eleições de 2014 e depois disso”, disse Adani, durante o programa, referindo-se ao líder do partido de oposição Rahul Gandhi.
As ações das empresas listadas de seu grupo despencaram na semana passada, com perdas acumuladas de US$ 48 bilhões, depois que o vendedor a descoberto Hindenburg Research acusou os negócios de Adani de uso indevido de paraísos fiscais offshore e sinalizou preocupações sobre dívidas altas.
O Adani Group emitiu uma resposta detalhada no domingo, dizendo que cumpre todas as leis locais e fez as divulgações regulatórias necessárias. O conglomerado disse que o relatório Hindenburg, que anteriormente havia dito ser infundado, tinha como objetivo permitir que o vendedor a descoberto dos EUA registrasse ganhos, sem citar evidências.
‘CRESCER COM BEM’
O site do Adani Group diz que sua visão é equilibrar “crescimento com bondade”, pois visa construir ativos de relevância nacional e transformar vidas por meio da autossuficiência e sustentabilidade.
Adani não é estranho à controvérsia. O mais recente foram meses de protesto de pescadores contra a construção de um porto de US$ 900 milhões em Kerala, no sul da Índia, no qual ele processou o governo do estado e os líderes dos pescadores. E na Austrália, ativistas ambientais protestaram durante anos contra o projeto da mina de carvão Carmichael de Adani em Queensland devido a preocupações com emissões de carbono e danos à Grande Barreira de Corais.
Seu último desafio é como lidar com uma queda sem precedentes no preço das ações, já que a principal empresa do grupo, Adani Enterprises, lançou a maior oferta pública secundária de ações do país nesta semana, com o objetivo de levantar US$ 2,5 bilhões.
O preço da ação na sexta-feira caiu bem abaixo do preço de oferta, lançando dúvidas sobre seu sucesso.
O guru da imagem, Dilip Cherian, disse à Reuters que o Relatório Hindenburg – e suas consequências – pode acarretar riscos à reputação, mas Adani pode tomar medidas para limitar esse dano e tranquilizar os investidores sobre a força financeira e patrimonial do grupo.
“Em termos do tipo de ascensão estelar que ele teve, isso é um perigo”, disse Cherian.
Adani disse à TV India Today em dezembro que as pessoas que levantaram questões sobre a dívida do grupo não haviam se aprofundado em suas finanças, sem dizer a quem ele estava se referindo.
Enquanto o mercado se desenrolava nas bolsas de Mumbai, Adani foi visto indo para uma reunião no gabinete do ministro da energia federal em Nova Delhi. Não se sabe o que foi discutido e o Adani Group não respondeu a um pedido de comentário na sexta-feira.
A dívida bruta consolidada do Adani Group é de US$ 23,34 bilhões, diz Jefferies. Enquanto Hindenburg alegou que as principais empresas listadas da Adani tinham “dívidas substanciais”, o que colocou todo o grupo em uma “situação financeira precária”, o Adani Group disse repetidamente que seus empréstimos são administráveis e nenhum investidor levantou qualquer preocupação.
