Agência da ONU para Refugiados, Acnur, apoia iniciativa com jovens traumatizados pelos horrores da guerra na República Democrática do Congo que tentam reconstruir suas vidas no país africano de língua portuguesa; time de angolanos e congoleses agora sonha em competir em campeonatos nacionais.
Em 2017, o técnico de futebol Djibril Mukandila teve que deixar tudo às pressas para fugir da guerra em seu país: a República Democrática do Congo.
Em casa, ele comandava o clube AS Vutuka, na região de Kasai Grande. Mas com o conflito, se tornou um dos 1,4 milhão de deslocados, testemunhando as terríveis consequências da guerra.
Chance de bem-estar físico e emocional
Ao atravessar a fronteira e chegar a Angola, num grupo de 35 mil pessoas, o técnico estava acompanhado da mulher e de cinco filhos. Foram viver num acampamento para refugiados na província de Lunda Norte. Para Djibril, seria impossível retomar sua profissão no novo país.
Mas no acampamento, ele começou a organizar partidas com jovens congoleses que chegavam como refugiados. Segundo Djibril, apesar de os jogadores não serem profissionais, o futebol oferecia a eles uma chance de bem-estar físico e mental além de ajudar a criar uma coesão social.
A iniciativa de fundar um time de futebol foi apoiada pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur. O representante do Acnur em Angola, Vito Trani, ressalta que o desporto ajuda a lidar melhor com o passado e a enfrentar o futuro com esperança.
Futebol ajudou a acabar com desconfiança de angolano
Um dos atletas da equipe, Mananga Mandundu, de 16 anos, lembra da guerra na RD Congo, onde perdeu o pai e três irmãos.
Para ele, o futebol o ajudou a vencer a tristeza. Agora, sonha em se tornar um jogador profissional.
O mesmo acontece com Adore Oyombo, 24 anos, que teve que fugir dos horrores do conflito.
No início, os refugiados tinham o próprio time, que venceu o clube local de angolanos no primeiro torneio organizado pelo Acnur.
Para o Acnur, a iniciativa de fazer um time de congoleses e angolanos mostrou como é possível quebrar barreiras
Um dos integrantes da equipe angolana, Miguel Baptista, conta ter aprendido muito com a equipe adversária. Ele disse que a desconfiança dos congoleses foi dissipada quando começaram a jogar juntos.
Ponte de amizade entre duas nacionalidades
O técnico Djibril, então, passou a investir numa ponte de amizade dos angolanos com os congoleses formando um time só com ambas as nacionalidades.
O objetivo era promover paz e coexistência e, por isso, teve a ideia de convidar Miguel Baptista para se tornar seu treinador-assistente.
No mês passado, a nova equipe entrou em campo vestindo a camisa do Clube Integrado de Futebol de Lôvua, o nome do acampamento. E mesmo perdendo a primeira partida, o time impressionou os torcedores.
Além de técnico da equipe, Djibril trabalha como mobilizador da ONG Visão Mundial, que é parceira do Acnur, durante a semana.
Sonho de chegar aos torneios continentais
No fim de semana, ele e os jogadores viajam para competir em campeonatos locais levando um pequeno grupo de torcedores em caravana.
Para o Acnur, a iniciativa de fazer um time de congoleses e angolanos mostrou como é possível quebrar barreiras.
O diretor do Escritório do Acnur na Província Lunda Norte, Chrispus Tebid, disse que agora o sonho é ver um dos jogadores se profissionalizando em clubes de outras partes de Angola.
Já o técnico Djibril sonha com a equipe de refugiados e angolanos chegando a um torneio africano.
Para o jovem jogador Mananga, aqueles times que um dia eram rivais, hoje formam uma família.
*Artigo de Lina Ferreira, do Acnur em Angola.